Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
"Morar dignamente é um direito humano”.
A frase, que estampa cartazes, camisetas e bandeiras, também ecoa nos gritos dos membros do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Fundado em 1999, o movimento social está presente em 16 estados brasileiros e leva a mensagem de que é urgente fazer uma intensa reforma urbana no país.
Em seus manifestos, o MLB deixa explícito que essa transformação é parte do projeto de construir uma sociedade socialista, definida pelo grupo como diferente, com igualdade, dignidade e direitos para todos.
Integram o MLB milhares de famílias sem teto, moradores de habitações populares, residentes em áreas de risco e pessoas que vivem em casas alugadas. Na ponta de apoio do processo, estão estudantes universitários, profissionais autônomos, arquitetos e jornalistas que se identificam com as reivindicações do movimento.
É o caso da jornalista cearense Claudiane Lopes, que é membro do MLB desde a chegada dele em Fortaleza, em 2005. Integrante das coordenações nacional e estadual do movimento, foi quase impossível encontrar espaço na agenda dela para conversar com a reportagem.
Sempre atarefada, Claudiane tem conciliado seu trabalho com as atividades da militância apenas no mundo virtual. É que devido ao agravamento da pandemia de Covid-19, ela e seus companheiros de luta não puderam mais realizar as reuniões em comunidades de Fortaleza.
Antes dos decretos de isolamento social, a agenda do grupo era composta por encontros que preenchiam quase a semana toda, com visitas aos seguintes bairros: Curió, Sítio São João, Quintino Cunha, Genibaú, Conjunto Pan-Americano, Granja Portugal, Dias Macedo, Vicente Pinzon e Morro Santa Terezinha (Alto da Paz).
“Nessas reuniões, a gente dá formação política, discute por que as pessoas vivem nessa situação e organiza o povo para lutar. Não só pela casa, mas por emprego, por políticas públicas, por creche, pelo fim da violência nos bairros, enfim, pelas bandeiras que o povo necessita para viver dignamente”, explica a jornalista, acrescentando que as atividades contemplam cerca de 60 famílias.
Além da formação política e das manifestações, o MLB realiza ocupações de terrenos sem função social. Em seus manifestos, o movimento define que a organização de atos deste tipo “tem importância fundamental” para o projeto de reforma urbana.
Segundo o grupo, as ocupações chamam a atenção das autoridades, educam a população para a necessidade de lutar organizadamente e permitem desenvolver o espírito de trabalho coletivo.
Dever de ocupar
"Ocupar é um ato de rebeldia, de confronto com a ordem estabelecida, de questionamento à sagrada propriedade privada capitalista. Logo, enquanto morar dignamente for um privilégio, ocupar é um dever!”. - Trecho do artigo “MLB, essa luta é pra valer!”, publicado no site oficial do movimento.
Esse “dever de ocupar” foi cumprido desde a chegada do MLB à capital cearense. Está nas memórias das militâncias de Claudiane a primeira ocupação da qual participou: “Nossa primeira ocupação foi a Bárbara de Alencar, que foi no prédio abandonado do INSS, no Centro de Fortaleza”, relembra a jornalista, referindo-se ao edifício localizado na Rua Guilherme Rocha, cuja ocupação homenageou a revolucionária pernambucana.
Conquistas
Com as lutas travados nos últimos anos, Claudiane estima que o MLB tenha conquistado entre 400 e 500 casas populares para famílias de Fortaleza. “Todas essas casas são através da nossa organização popular, através de ocupações urbanas, através de ocupações da secretarias de habitação. Realizando ações junto às prefeituras, a gente conseguiu garantir casas para as pessoas”, orgulha-se.
Outro episódio que marcou a trajetória da jornalista no MLB foi uma ação que ela nem recorda ao certo de que se tratava, mas que terminou em confronto com as forças de segurança.
“Acho que foi em 2006. A gente fechou da BR-222 à avenida Mister Hull, queimando pneu. A polícia veio prender os dirigentes. Eu não era do movimento ainda, era só apoiadora do movimento estudantil da juventude. Ali, vi as mulheres, com filhos nos braços, indo para cima da polícia”, descreve.
A militante faz questão de destacar que a força motora dessas lutas é feminina. “É um movimento que é mais de 70% constituído por mulheres. Em sua grande maioria, são avós, são mães solteiras, são mulheres negras, que vão para a luta. Então, é um movimento muito humano, com muita força, muita solidariedade. Queremos que as administrações públicas cumpram o que está no Estatuto das Cidades, o que está na Constituição, que é dar direito à habitação para as pessoas”, sintetiza a mobilizadora.