top of page
logo marighella.png

85 famílias. Rua Icran n° 305, Mondubim. Fortaleza.

A Ocupação Carlos Marighella nasceu pela necessidade de um teto e por meio da luta por moradia. Em oito de junho de 2020, Francisco de Assis Oliveira, conhecido como Branquinho, tentou ocupar um terreno baldio mais uma vez. Há pelo menos seis anos, ele e outros moradores tentam se estabelecer na terra da Rua Icran, sem uso social há mais de três décadas.

 

Em outras tentativas, a polícia, a terra lamaçenta e o medo fizeram com o que os grupos ocupantes desistissem. Dessa última vez, a resistência, ou talvez a necessidade, falaram mais alto. A diferença para os episódios anteriores? Uma crise sanitária e econômica estabelecida a poucos meses.

 

Branquinho e os primeiros a chegarem convidaram conhecidos em dificuldade. E rapidamente, dezenas de famílias se juntaram a começaram a construir barracos na terra desvabrada. Trabalhadores desempregados, inquilinos com ameaças de despejo, mães-solo e pessoas em situação de rua - o perfil da Marighella é diverso e típico de Fortaleza. 

 

Em agosto, veio a primeira das grandes dificuldades: uma empresa imobiliária alegou posse do terreno ocupado e passou a usar de estratégias para que os moradores saíssem dali. Ao mesmo tempo que a empresa prometia a doação de um terreno aos ocupantes, dava entrada em um pedido de reintegração de posse na Justiça. E mesmo sem ordens judiciais, a comunidade começou a receber visitas de agentes de segurança disfarçados e ameaças de remoções. 

 

Enquanto a ação de reintegração era marcada e adiada sucessivamente, os moradores começaram se articular politicamente. E a coordenação da Ocupação, constituída por representantes de movimentos sociais, partidos políticos e organizações de luta por moradia, se estabeleceu. 

 

A organização interna e os atos públicos de reivindicação são sempre debatidos em assembleia, até alcançar uma decisão unânime. As ocupações no Paço Municipal, na Secretaria das Cidades, em ruas de Fortaleza e na sede do PDT  - partido do prefeito - foram efetivas em denunciar as violações cometidas por agentes durante as mais de cinco tentativas de remoção.

 

A Ocupação começou a ser pautada nos grandes veículos de imprensa, pouco receptivos a muito do que a Carlos Marighella representa: periferia, resistência e militância social. 

 

Construir do zero os barracos destruídos e lutar contra as ordens de despejo cada vez mais próximas faziam parte da rotina das 85 famílias na Mariguella nos seis primeiros meses da Ocupação.

 

Em 15 de dezembro, após repetidas tentativas de remoção, os moradores conquistaram um terreno. Não o ocupado, mas bastante próximo dali. 

 

Em uma terra sua, cedida pela prefeitura e registrada oficialmente, a Marighella conseguiu um feito tão desejado por outras ocupações que existiam e existem na Capital. Mas a batalha não terminou aí. Em fevereiro de 2021, uma das tentativas de remoção mais fortes, com nova derrubada de barracos, ocorreu ilegalmente.  

 

Em audiência com os moradores, a Prefeitura afirmou que um 'erro no sistema' causou a operação. E foi firmado compromisso para a construção de casas definitivas para todas as famílias. 

 

Os moradores da Ocupação Carlos Marighella dormem e acordam conscientes de que conquistaram muito, devido à luta, mas que ainda precisam garantir muito mais. O objetivo final - a construção do conjunto de habitação - ainda está longe.

 

A organização da Marighella não para. E inspira.  

LINHA DO TEMPO DA RESISTÊNCIA PELO TERRENO 
carlos_marighella-removebg-preview.png
marighella_121104_pcb.jpeg

QUEM FOI MARIGHELLA?

marighella-removebg-preview (1).png
marighella-removebg-preview (1).png
carlos_marighella-removebg-preview (1).p

Carlos Marighella foi um guerrilheiro comunista que viveu a repressão de dois regimes autoritários: o Estado Novo e a ditadura militar. Descendente de um imigrante italiano e filho de mãe baiana, Marighella nasceu em Salvador em 5 de dezembro de 1911. Aos 23 anos, se tornou militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi oposição e preso durante a ditadura na Era Vargas, por subversão. 

 

Entre 1953 e 1954, foi convidado pelo Partido Comunista Chinês para conhecer a revolução comunista chinesa. Retornou ao Brasil e, dez anos depois, foi instaurada a ditadura militar. Ele foi preso em 1964 pelo Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS, mas foi libertado no ano seguinte e entrou na luta armada contra o regime.

 

A decisão pela luta armada o fez deixar o PCB, já que o partido pregava uma oposição sem armas. Em 1968, fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo armado comunista responsável pelo sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. 

 

No ano seguinte, os órgãos da ditadura se concentram em encontrar e capturar Marighella, que foi considerado o inimigo número 1 dos militares. Os agentes montaram uma emboscada em São Paulo e mataram o militante a tiros.

 

Somente em 1996, o Ministério da Justiça responsabilizou o Estado brasileiro pela morte de Carlos Marighella. Sua anistia post mortem foi oficializada em 2012, após apurações da Comissão da Verdade. 

Carlos Marighella foi um guerrilheiro que buscava por justiça social e era contra a repressão dos poderosos. Símbolo da luta pela democracia, ele se conectou ao mundo das artes por meio da poesia e das letras. É pela luta por igualdade e contra as injustiças sociais que Carlos Marighella foi escolhido para dar nome à Ocupação no Bairro Mondubim. 

“A ocupação, de uma forma bem parecida com o Marighella, não só pelo nome, mas a gente sabe que a repressão que tava vindo, de ameaça, por conta da empresa também que tava vindo com alguns seguranças armados. Via no olhar deles que alguns ali têm jeito de militar. Pessoas que olham pro pessoal que trabalha em movimento, com olhar de desprezo, de raiva, de ódio”, explica Francisco de Assis, o Branquinho, que batizou a Ocupação.

foto-carlos-marighella-removebg-preview.
bottom of page