top of page
site capa (17).png

Tv. Dep. Joel Marques, Pici

Coragem e valentia no Planalto

Ao contrário do que muitos pensam, a origem do nome Pici é bem anterior à instalação da base de pouso norte-americana no bairro da zona oeste de Fortaleza, na década de 1940.

 

Como já explicou o memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o território foi batizado pelo proprietário do então “Sítio Pecy”, Antônio Braga, em homenagem aos personagens Pery e Cecy do livro “O Guarany”.

 

Caracterizado como “corajoso, valente e fortemente ligado à sua terra”, o protagonista masculino da obra de José de Alencar simboliza bastante as vivências de muitos moradores do bairro da capital cearense.

Os irmãos Francisco e Cícera Martins, por exemplo, participaram das inúmeras lutas pela aprovação do projeto que transformou o atual Planalto Pici em uma Zeis Prioritária, em 2009.

 

Foram 15 anos de intensa mobilização junto à Prefeitura de Fortaleza em busca da garantia de moradia digna para a população local. O processo foi marcado por manifestações, reuniões e conflitos de interesse. 

morar em (8).png

Mas a tal coragem dos moradores do Pici é ainda mais antiga e começa na ocupação das terras, na década de 1990.

 

"Quem fez a ocupação aqui foram famílias de baixa renda, que geralmente pagavam aluguel ou não tinham onde morar, e queriam uma moradia. Foi uma ocupação pacífica. No início, houve umas ameaças de remoção, mas a comunidade resistiu, organizada", diz Francisco, cheio de orgulho. 

 

Das ocupações, formaram-se os assentamentos Futuro Melhor, Fumaça, Entrada da Lua e Conjunto Planalto Pici. Juntos, eles formam a Zeis Pici, com aproximadamente 24,8 mil habitantes, segundo dados do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor).

Com o passar dos anos, a organização do território foi ficando cada vez mais complexa, com divisão de ruas, criação do Grupo de Apoio ao Desenvolvimento Familiar (GDFAM), além do estímulo a uma consciência política sobre os problemas enfrentados na comunidade.

A origem desse processo se deu nas atividades religiosas que marcaram o início da ocupação. À época, os moradores recebiam apoio das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora.

 

Quem acompanhou isso de perto foi Cícera, que estava entre as mulheres que se juntaram às freiras para participar de novenas, mas acabaram descobrindo-se militantes.

 

As irmãs me convidaram para alfabetizar crianças. Formamos um grupo de mulheres e começamos a caminhar e ver as necessidades do bairro. Aí, a gente foi trabalhando, vendo a questão da educação, da falta de renda e da situação das nossas casas. E assim, a gente foi se inserindo na luta pela moradia”, relembra a pedagoga.

morar em (5).png

O Planalto e seu plano

Em 2020, a principal conquista do Planalto Pici foi a aprovação do Plano Integrado de Regularização Fundiária (PIRF). As atividades ainda estão em desenvolvimento, mas a promessa de entrega do papel da casa é sonho antigo dos moradores. É o caso de Francisco Leonor, que vive no bairro desde os anos de 1990.

 

Já estamos com quase 30 anos aqui e a gente ainda mora com sacrifício. Com o papel da casa, talvez a gente fique mais tranquilo. O medo que faz é a gente ter mexido com uma cobra brava e depois ela botar a gente pra correr. porque a gente ainda tem esse medo”, revela.

O morador, que integra o conselho gestor da Zeis Pici junto com Francisco, cita as ruas estreitas e a falta de saneamento básico como alguns dos principais problemas da comunidade. Mesmo assim, Leonor é um dos que enxergam o lado bom do Pici.

 

É vantajoso você morar aqui, os impostos são menores. Bota um pontinho de negócio, já fica com a cabeça erguida. Tem muita gente bem aqui. Não tem outro lugar melhor para morar. Temos tudo perto. Reclama quem gosta de reclamar. E a gente fala: ‘Tá reclamando? Pois vai morar na Aldeota’”, crava o aposentado.

site capa (19).png

Além dos problemas citados por Leonor, o projeto de gestão da Zeis Pici prevê a criação de programas que fomentem educação, geração de emprego e renda, fundação de um banco popular, instalação de semáforos nas ruas, reparos na pavimentação, construção de torres de segurança, entre outras melhorias.

 

Até o momento, essas transformações não saíram do papel. Enquanto isso os moradores aguardam, ansiosos para que suas propostas tornem-se realidade e deixem de ser somente planos.

“A nossa perspectiva de futuro é continuar lutando para que a regularização fundiária aconteça, de fato e de direito. De fato, nós já estamos aqui, mas de direito, é um reconhecimento pelo poder público, pela lei, de que onde a gente mora é nosso, é a nossa propriedade”

Francisco Martins, morador e conselheiro da Zeis Pici

“É difícil, mas a gente não desiste, não. Porque para a gente que está aqui nas comunidades, o povo pobre, nunca foi fácil. E nunca vai ser. Mas a gente não pode deixar com que isso faça com que a gente deixe de estar no caminho. Porque a gente tem uma esperança maior. Devagarzinho, dá 10 passos e volta um. Mas a gente persiste e não deixa a peteca cair”

Cícera Martins, moradora e agente comunitária do Planalto Pici

bottom of page